Cozinha Acessível: O que é e como planejar uma do zero
Antes de saber como planejar uma cozinha acessível, é importante lembrar que acessibilidade diz respeito a autonomia, conforto e segurança. Leve isso para o seu dia a dia.
Para explicar esse conceito, a gente foi consultar o pessoal do Guia de Rodas, o maior aplicativo de acessibilidade do Brasil, que entende tudo sobre o assunto. As dicas e orientações a seguir foram dadas pela arquiteta e urbanista Cristiane Kröhling Bernardi, doutoranda pelo IAU – Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP e pesquisadora sobre acessibilidade e mobilidade urbana.
Acessibilidade tem que ser bom para todo mundo
Antes de tudo a gente precisa considerar o que é uma cozinha acessível, porque a cozinha que foi projetada exclusivamente para um cadeirante na maioria dos casos é um projeto inviável, já que os demais moradores da casa também precisam conseguir utilizá-la com o mínimo de conforto e segurança.
Então a cozinha acessível ideal deve que ser boa para todo mundo, não especificamente para um morador. Talvez a gente possa considerar como parâmetro uma cozinha adaptada para um morador que usa cadeira de rodas.
Como projetar a cozinha acessível do zero
Entenda qual é a movimentação necessária e de que forma essa pessoa pode se movimentar com segurança. Uma das coisas essenciais é manter o centro da cozinha livre para a cadeira fazer o giro.
É ideal que seja um giro de 360 graus e, para isso, a medida mínima a ser considerada é de 1,50 m livre. Ou, se a cozinha não permitir, pelo menos que a pessoa consiga fazer um giro de 180 graus, num vão livre de 1,20 m para manobra.
Além do espaço para circulação, é preciso zelar pela segurança
É importante considerar também a segurança dessa pessoa, principalmente com os materiais quentes. A pia da cozinha deve ficar livre de gabinete para que a pessoa possa fazer uma aproximação frontal para lavar louças ou alimentos.
Então, nada de armários embaixo da pia!
É importante que o sifão seja de plástico e não metálico, porque eventualmente se ela usar água quente ou derramar uma panela com água fervendo, ela pode se queimar, caso o sifão seja metálico e estiver em contato com a perna.
Como algumas pessoas que usam cadeira de rodas não têm sensibilidade nessa região, então elas podem se queimar e não perceber.
Medidas ideais para bancada da cozinha acessível
Outra coisa importante é que as alturas devem ser tomadas de uma maneira padrão, para que tanto uma pessoa que esteja em pé, quanto a pessoa que esteja sentada, possa ter uma movimentação adequada.
A bancada da pia, por exemplo, deve ter altura máxima de 85 cm.
A parte da cuba onde a pessoa deve se aproximar para lavar louça deve ter uma largura sob a bancada de 80 cm e uma altura livre sob a bancada no mínimo de 73 cm.
Isso permite que uma pessoa consiga avançar sentada na cadeira de rodas, e que uma pessoa em pé também tenha autonomia para trabalhar na cozinha.
Alturas ideais para o fogão em uma cozinha acessível
Os mesmos referenciais devem ser adotados para o fogão. O ideal é que seja um modelo cooktop para que a pessoa possa também avançar frontalmente, se aproximando da área de trabalho.
Nesta área deve haver também um espelho antiembaçante colocado na parte posterior do fogão, um pouquinho abaixo da coifa, numa angulação que permita com que a pessoa que esteja sentada enxergue dentro das panelas.
Instalação de armários e prateleiras
Para objetos, utensílios e mantimentos estarem ao alcance da mão, é preciso que armários e prateleiras tenham medidas ideais para que eles sejam alcançados. Para alcance na vertical, a altura máxima de instalação de prateleiras e armários deve estar entre 1,25 m e 1,30 m.
E a altura de alcance na horizontal, como pia ou alguma área de trabalho para manipulação de alimentos, o máximo que se deve ter de profundidade de área útil de trabalho (não de profundidade da bancada) é até 60 cm, para a pessoa ter autonomia na hora de manipular esses produtos ou alimentos que estiverem sobre a bancada.
A norma técnica ABNT e o bom senso, caso a caso
A referência de alcance manual para uma pessoa em cadeira de rodas está na norma técnica ABNT 9050 de 2020, página 20. Mas isso é bastante relativo, porque vai depender da profundidade da bancada, da altura das prateleiras e até da estatura da pessoa e se ela tem mobilidade de tronco ou não.
Então, antes de qualquer coisa, é preciso avaliar essas peculiaridades, caso a caso.
Tapetes podem atrapalhar a acessibilidade da cozinha
Um item que atrapalha bastante a circulação na cozinha é o tapete, pois ele enrosca na cadeira de rodas e não é adequado também para pessoas mais idosas, pois há sempre o risco de escorregar e cair.
Nesse caso, melhor tirar o tapete!
Os vãos de passagem ideais na porta e entre objetos
Com relação ao vão da passagem, todas as passagens de portas acessíveis devem ter vão luz (vão livre de batente a batente) de 80 cm, para uma cadeira de rodas passar com conforto.
Para essa pessoa se movimentar na cozinha e a cadeira de rodas fazer um giro completo de 360 graus, o vão livre é de 1,50 m. E se for com uma rotação de 180 graus, que não é indicada, mas é aceitável, essa pessoa precisa de um espaço de manobra de 1,20 m.
Considere isso para deixar espaço entre a bancada da pia e a geladeira, ou se você tiver uma ilha, objeto ou armário que comprometa a circulação.
Itens proibidos de se ter em uma cozinha acessível
Evite tudo aquilo que possa gerar acidente, machucado, tropeço ou corte, como tapetes e passadeiras e sifão metálico.
Mesas com pontas ou quinas, por exemplo, devem dar lugar a mesa redonda, para que a cadeira possa entrar facilmente.
O que é desejável de se ter em uma cozinha acessível
Existem sistemas automatizados que dão um conforto a mais. Por exemplo: há um sistema de escorredor de prato colocado sobre a pia, que pode ser baixado automaticamente.
A pessoa preenche o escorredor na medida que vai lavando a louça, aperta o botão, o escorredor sobe, a louça seca e já fica lá no armário.
Torneiras e iluminação com acionamento automático também são mais acessíveis.
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