O que é argamassa polimérica?
Quem está construindo ou simplesmente tem curiosidade por construção, certamente já cruzou com o canal Vida Engenharia, no You Tube, criado em 2015 pelo engenheiro civil Luiz Guilherme Pinto.
Com 413 mil inscritos, o canal faz o maior sucesso entre leigos e profissionais da construção civil, como pedreiros, serventes, carpinteiros, mestres de obras, além de engenheiros, arquitetos e estudantes dessas áreas.
O público masculino predomina no canal, mas algo está mudando: “Cada dia que passa eu percebo que o público feminino tem aumentado no engajamento do canal. No início eram de 12 a 15% de público feminino, hoje já são 20%.
O interesse das mulheres está cada vez maior na construção civil, e cada vez mais elas têm se destacado em áreas que eram sempre consideradas masculinas. E você tem os exemplos de engenheiras, pedreiras, carpinteiras, extremamente profissionais e competentes”, afirma Luiz.
A principal ideia por trás da criação do canal foi a observação prática de Luiz ao longo dos anos. “Eu sempre percebi que havia uma parcela muito grande da população que construía sua casa, seu sobrado, sem acompanhamento técnico nenhum.
Algumas vezes essas pessoas cometiam alguns erros grotescos e perigosos, e algumas falhas que poderiam inclusive levar a perigo de colapso, desabamento, e muitas vezes elas nem sabiam o risco que estavam correndo”, conta.
“Então, a partir do momento em que essas pessoas pudessem ter acesso a um conteúdo gratuito, que ensinasse e mostrasse a importância que um acompanhamento técnico, com um engenheiro civil, aumentaria bastante a chance de essa pessoa pensar em contratar um profissional e executar a obra da forma correta.”
Nascido na pequena cidade de Porteirinha, em Minas Gerais, Luiz se formou em 2011. “As estruturas de concreto dos edifícios e arranha-céus sempre me chamaram muita atenção. No ensino médio eu já tinha total certeza da profissão que eu queria seguir, e a oportunidade de ter estudado na Universidade Federal de Viçosa foi um grande diferencial na minha profissão”, conta.
Depois de formado, Luiz trabalhou na obra de escolas, construções, reformas na região metropolitana de Belo Horizonte, e em projetos de creches do Governo Federal. Mudou-se para o estado do Rio de Janeiro e passou no concurso da Emop (Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro), onde fazia manutenção principalmente em escolas e nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
Desde 2013, Luiz trabalha em Guanambi (BA), na construção da ferrovia de integração oeste-leste, que hoje é a maior obra de infraestrutura do Governo Federal. Trata-se de uma ferrovia com aproximadamente 1500 km, que vai sair de Figueirópolis (TO) até Ilhéus (BA), para escoamento da produção agrícola e mineral da Bahia, Tocantins e Goiás.
O segredo de sucesso de Luiz no seu canal é a clareza para falar de assuntos complexos de um jeito simples.
“Embora o canal tenha um conteúdo técnico, eu sempre utilizei uma linguagem extremamente popular, para que o leitor consiga entender o que tem por trás da engenharia, os principais fundamentos, as principais estruturas, as principais curiosidades. Então os vídeos que mais bombam, estão aqueles que têm um apelo estrutural, sobre pilares, vigas, fundações”, conta.
Comunicador de mão cheia e engenheiro experiente, Luiz é nosso convidado para explicar tudo sobre argamassa polimérica. Confira a seguir o que é, para que serve e quando usar este produto, e aproveite todas as dicas de Luiz para colocar em prática nas suas obras.
O que é argamassa polimérica?
Luiz Guilherme Pinto – A argamassa polimérica é muito semelhante à argamassa convencional de base cimentícia, porém, além do cimento, ela recebe a adição dos polímeros, que são macromoléculas formadas a partir de unidades estruturais menores.
Quimicamente falando parece complicado, mas na prática, a adição desse polímero tem a função de modificar alguns pontos fracos da argamassa de base cimentícia, proporcionando alguns benefícios, que eu explico a seguir.
Quais as vantagens da argamassa polimérica?
Luiz Guilherme Pinto – As principais vantagens da argamassa polimérica são rendimento, produtividade, elasticidade, resistência e impermeabilidade. Como o polímero tem o aspecto relativamente plástico, ele vai melhorar significativamente o rendimento dessa argamassa.
Com mais rendimento, você vai ter mais produtividade. E como os polímeros têm esse aspecto plástico bem considerável, você vai obter uma extrema elasticidade na massa e essa elasticidade traz também impermeabilidade.
E quando você soma rendimento, produtividade, elasticidade e impermeabilidade, você vai ter também resistência nessa argamassa.
A argamassa sem os polímeros, simplesmente com o cimento, se torna uma argamassa muitas vezes sujeita a alguns fenômenos como retração ou trincas. Já a argamassa com a ação dos polímeros, ela vai ter mais resistência a esses fenômenos negativos que podem ocorrer.
Quando você soma isso em uma aplicação, quando você obtém uma aplicação mais eficiente e um consumo de material menor e uma produtividade maior. Quando você soma isso tudo, irá resultar em economia de dinheiro e redução no prazo de execução.
Quais as desvantagens da argamassa polimérica?
Luiz Guilherme Pinto – As principais desvantagens da argamassa polimérica são a sua resistência mecânica e a sua resistência com relação a raios solares. Então você não pode impermeabilizar, por exemplo, superfícies que vão ficar diretamente expostas ao sol ou que vão receber um trânsito de pessoas ou de veículos, porque ela vai se desgastar muito rápido, quando você somar esse efeito de sol com o efeito de trânsito.
Então a maioria das utilizações da argamassa polimérica são utilizações em que, após a aplicação desse produto, você fará uma proteção mecânica. Essa proteção mecânica pode ser um contrapiso ou pode ser um revestimento cerâmico ou revestimento de pastilha, por exemplo.
A argamassa polimérica pode ser utilizada em reservatórios, porque o reservatório vai ser preenchido de água e isso irá reduzir muito o impacto mecânico. A água praticamente não representa impacto mecânico, por isso que ela é utilizada em reservatórios.
Mas em piscinas, por exemplo, você não vai poder utilizar diretamente, sem a aplicação de um segundo revestimento.
Então você tem que utilizar um contrapiso para fazer a proteção mecânica e depois um revestimento do gosto do cliente, como o azulejo de piscina ou outros tipos de revestimentos.
Outra desvantagem também é uma desvantagem cultural. Poucas pessoas conhecem a argamassa polimérica, então o fato de boa parte das pessoas desconhecer o produto faz com que ele não seja tão utilizado principalmente nas pequenas cidades.
Você pode ter uma dificuldade, tanto de encontrar o produto em pequenas cidades, como de encontrar a mão de obra que trabalha com esse produto.
Em quais casos a argamassa polimérica deve ser usada?
Os principais locais onde a argamassa polimérica é usada são aqueles que vão receber um acabamento ou uma proteção mecânica, como, por exemplo, saunas, banheiros, lavanderias, áreas de serviço.
Você pode passar tanto nos pisos, quanto nas paredes, numa altura até 80 centímetros ou 1 metro, para evitar vazamento entre os cômodos laterais.
Você pode também utilizar em alguma parede que vai ficar exposta à umidade ou à chuva, ou que vai estar recebendo a água de um jardim, e a utilização da argamassa polimérica nesses locais vai evitar algumas patologias desagradáveis, como por exemplo o aparecimento de mofo, bolhas e descascamento.
A argamassa polimérica pode ser considerada um tipo de manta líquida? Ela faz parte dessa categoria de produtos
Luiz Guilherme Pinto – Existem semelhanças e diferenças entre a manta líquida e a argamassa polimérica. No quesito aplicação, elas são bem semelhantes: ambas podem ser aplicadas com brochas ou com rolinhos e isso faz com que as pessoas possam realmente confundir um pouco os dois tipos de material.
Além do mais, esses dois tipos de produtos são em geral utilizados como impermeabilizantes.
Porém, a manta líquida tem base geralmente asfáltica ou uma base acrílica. Já a base da argamassa polimérica é o cimento mais os polímeros.
Então, temos em uma das diferenças com relação à composição, e a outra diferença é que a manta líquida é um produto desenvolvido para receber uma certa proteção mecânica direta, ou seja, você não vai precisar fazer novamente um segundo tipo de reforço.
Muitos tipos de manta líquida já têm resistência suficiente para ser o acabamento final. Então por exemplo, se você tem uma cobertura e aplica a manta líquida, muitas das vezes esse pode ser o seu acabamento final.
Ela vai permitir um trânsito de pessoas e uma resistência solar. A manta líquida tem essa vantagem, que a argamassa polimérica não tem.
Então são produtos semelhantes com relação à aplicação e com relação a resultados, mas são produtos que também têm diferenças com relação aos cuidados e com relação principalmente à composição química.
O que é uma manta líquida?
Luiz Guilherme Pinto – Para explicar o que é uma manta líquida, a gente tem que entender como surgiu esse termo “manta”. A manta foi original e mundialmente difundida como as mantas asfálticas. O que é uma manta asfáltica? É aquela manta que vem em formato de rolinho e você precisa de uma mão de obra especializada, que vai trabalhar com certos cuidados, com o aquecimento por meio de um botijão de gás e fogo.
Essa manta original, que é vendida em rolo, tinha algumas desvantagens: a principal desvantagem era uma aplicação extremamente técnica, até mesmo perigosa.
E para tentar contornar um pouco desses desafios que era a manta convencional, surgiu esse produto conhecido como manta líquida.
A manta líquida trouxe o benefício de poder ser aplicada sem uso de fogo, por uma mão de obra até mesmo não tão qualificada quanto a mão de obra que aplica a manta convencional asfáltica.
Então a manta líquida é um produto tanto com base asfáltica ou com base acrílica, que vai trazer um resultado final semelhante à manta original, mas na forma de aplicação ela é diferente porque ela vem em forma líquida.
Quando fazer impermeabilização com manta líquida?
Luiz Guilherme Pinto – A impermeabilização com manta líquida pode ser feita em praticamente todos os locais onde é feito uma impermeabilização com manta convencional. Qual a vantagem da facilidade de aplicação?
Quando você tem alguns cantos muito estreitos, alguns locais com difícil acesso, que você teria dificuldade de trabalhar por exemplo com um botijão de gás, você vai ter a vantagem de poder trabalhar com a manta líquida.
Então manta líquida ou manta convencional têm aplicabilidades muito semelhantes, porém as vantagens da manta líquida permitem que ela seja aplicada em locais pouco acessíveis.
Quais cuidados devem ser tomados na aplicação da manta líquida?
Luiz Guilherme Pinto – Um dos principais cuidados que se deve tomar na aplicação da manta líquida é a limpeza da superfície onde vai ser aplicada.
Outro cuidado também muito importante é se atentar ao consumo mínimo indicado pelo fabricante, tomar cuidado com o número de demãos que devem ser dadas, cuidado com os cantos, sempre procurar arredondar os cantos ou acrescentar uma proteção extra com alguma tela de poliéster ou uma tela de fibra de vidro.
Esses são os cuidados básicos na aplicação da manta líquida. E siga sempre as recomendações dos fabricantes, que vai dar tudo certo.
Pode-se utilizar liga para as massas como substituto da cal?
Luiz Guilherme Pinto – Existem basicamente dois tipos de liga que surgiram nos últimos anos, sempre com o objetivo de substituir a cal. Temos a liga em espécie líquida, que é como se fosse um detergente, que vai tentar substituir a cal no sentido de trabalhabilidade. E nós temos também algumas ligas com base de argila.
Tanto a base líquida quanto a argila vão trazer alguns benefícios de plasticidade e vão, sim, substituir a cal nessa função. Porém, a gente tem que se atentar que o uso da cal nas argamassas não tem apenas essa função de liga. Há algumas outras vantagens na utilização da cal.
Então, qual é a vantagem de usar liga para as massas como substituto da cal?
Luiz Guilherme Pinto – Uma das vantagens da utilização da cal além do fator trabalhabilidade, do fator plasticidade, é que a cal agrega dentro da sua argamassa outras propriedades. Uma delas é o controle da retração.
A gente sabe que o cimento utilizado na argamassa é um aglomerante hidráulico, ou seja, ele vai se endurecer através da absorção da água. Já a cal é um aglomerante aéreo, ou seja, ele se endurece através da absorção de ar.
Então a cal, juntamente com o cimento, funcionam como aliados, porque a cal, além de não roubar a água de que o cimento necessita para sua hidratação e do seu processo de cura, ela funciona como um reservatório de água para cimento.
Então a cal absorve a água no momento da confecção da massa, e vai soltando essa água aos poucos para o cimento. E esse fato de a cal funcionar como um reservatório de água para o cimento e fazer com que o cimento não não sinta falta de água no processo de cura e endurecimento, vai reduzir bastante o surgimento de algumas patologias, como fissuras ou pequenas trincas no reboco ou na sua argamassa.
Outra grande vantagem da cal é que a cal tem excelente poder fungicida. Então, alguns rebocos e algumas argamassas de assentamento feitas com cal têm essa proteção natural fungicida, evitando aquele bolor de fungo que comumente costuma aparecer nas argamassas durante o reboco, por exemplo.
Já a liga utilizada na massa, em geral ela é com uma base de detergente ou com uma base de argila. Então ela não tem tanta essa função de substituir a cal em alguns aspectos, porém ela tem vantagens econômicas e também tem vantagens de volume. Em geral são produtos que ocupam um espaço menor na obra e são produtos também um pouco mais econômicos.
Há algum outro uso para a argamassa polimérica?
Luiz Guilherme Pinto – A argamassa polimérica é disponível não apenas com uma base de impermeabilizante, ou seja, um produto que você vai aplicar com broxa ou com rolinho. Mas também existe argamassa polimérica para assentamento de blocos e tijolos.
Então é comum você encontrar também a argamassa polimérica em forma de bisnaga, e aí você vai formar cordões com esse produto, e vai fazer o assentamento de tijolos ou blocos substituindo a argamassa de assentamento.
Portanto, tanto ela pode ser utilizada como argamassa de assentamento ou como impermeabilizante.
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